sábado, 26 de junho de 2010

Aconteceu: quebrei!

Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar. Ando tão à flor da pele que teu olhar "flor na janela" me faz morrer. Ando tão à flor da pele, que meu desejo se confunde com a vontade de não ser. Ando tão à flor da pele que a minha pele tem o fogo do juízo final... (À Flor da Pele - Zeca Baleiro)



Hoje acordei e minha pressão já estava em 14/9. Na farmácia, pedi que medissem minha glicose naqueles aparelhinhos onde se fura o dedo, e o número foi 120. Sentado naquele sofazinho impessoal da farmácia, com o braço estendido sobre um suporte, pensei: quebrei! Não é a primeira vez que eu “quebro”, paro de funcionar direito. Mas sempre que isso acontece, inaugura uma nova fase de minha vida.

Eu tenho esse maldito hábito de racionalizar tudo e todos. Falo pouco sobre o que realmente penso, mas meus olhos e ouvidos captam muita coisa. Estou sempre ali, quietinho, inofensivo, observando... e minha mente trabalhando. Quando falo alguma coisa, passo o texto todo por alguns filtros para que não entendam exatamente o que eu estou pensando, e sim aquilo que eu quero que entendam – e estes mesmos filtros eu uso para escrever, e estou usando nesse momento inclusive.

Em outras palavras, eu manipulo meu jeito e minha fala, dissimulo. Me censuro pois acredito que ninguém gosta de ouvir o que eu realmente quero dizer, então tento tornar mais agradável o que está aqui dentro. Mas o fato é que não consigo disfarçar meus pensamentos. Não para mim. E ultimamente tenho pensado bastante. Mais que o habitual.

Tenho buscado razões, motivos, prós e contras de eu estar fazendo “tudo isso”. Tudo isso, mesmo! E o que eu tenho encontrado é entraves. Conflitos que eu nunca esclareço, nunca falo, sempre engulo.

Nada mais natural, então, que uma hora ou outra, tudo isso exploda na minha cara... ou mais especificamente, no meu organismo! E uma profusão de hormônios estressados caminham pelos meus sistemas, desarranjando glândulas e outras funções, elevando minha pressão, embrulhando meu estômago ou mandando pros quintos dos infernos a minha propensão ao diabetes.

Quando isso acontece, eu sei: é hora de por pra fora. É aí que tudo muda. Aí me verei solto, e cada um que cuide de sua metade da culpa ou do pedaço de mim que voar pela janela... Mas ainda não... vou segurar mais um pouquinho, só pra elevar um pouco mais esta pressão.

Você pode me ver do jeito que quiser, eu não vou fazer esforço pra te contrariar. De tantas mil maneiras que eu posso ser, estou certa que uma delas vai te agradar... Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa do que me doar. Se causei alguma dor não foi por querer, nunca tive a intenção de te machucar. Se teu santo por acaso não bater com o meu, eu retomo o meu caminho e nada a declarar. Meia culpa, cada um que vá cuidar do seu. Se for só um arranhão, eu não vou nem soprar... (Rosas - Ana Carolina)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quando o dia morre


Sutil, é a morte de um sentimento. Raramente temos a dimensão de que um sentimento está morrendo. Num instante até mesmo um cílio repousado sobre a pele do rosto era um detalhe que chamaria atenção, e provocaria uma tribulação nos sentidos, compelindo-nos à mover forçosamente a mão para livrar um rosto daquele pequeno traço em desarmonia. No outro, um corte que rasgue a peito de cima abaixo, é apenas um corte.

A luz do Sol deixa de tocar os objetos conferindo-os com cores vivas, e torna-se apenas uma luz. O dia azul fascinante e sorridente se torna apenas mais um dia. E a falta de um sorriso diário que provocaria lágrimas copiosas, se torna apenas... comum. Sutileza é o termo que define quando um sentimento morre.

Sensíveis são aqueles que percebem este momento. Notam as cores se desfazendo. Notam os momentos perdendo a importância. Notam os erros que cometeram e como tudo se perdeu por besteira. Por medo. Por insegurança, ou excesso de segurança. Quando morre um sentimento, morre o dia... e toda a semana volta a ter o mesmo sentido que tinha, antes de qualquer coisa nascer no universo. Era apenas um dia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

5 tentativas de Hai Kai


#1
Gosta a solidão
de acordar toda noite
acompanhada.

#2
Fita as dívidas
sentada na cadeira
chora límpida.

#3
Tendo todo o mar,
ela na praia teme o
ato de nadar.

#4
Menino sonha
empinando amores
largar a pipa.

#5
Mãe dividida -
culpa o ir do amado
e o filho chora.

O Hai Kai é um estilo poético trazido pelos japoneses que consiste em formar poesia em três versos, contendo 5 sílabas poéticas no primeiro, 7 no segundo e 5 no terceiro. Opcionalmente, deve-se representar uma estação do ano com alguma palavra relacionada (flor = primavera, sol = verão, etc). Não há obrigação de rima ou título, mas usa-se, ainda, rimar a última sílaba do primeiro verso com a última sílaba do terceiro, e no mesmo Hai Kai, rimar a segunda sílaba do segundo com a última da mesma linha. O objetivo, enfim, é dizer tudo de maneira simples, no menor espaço.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Questão de sobrevivência!


Cães brigam por comida. São instintivos, individualistas, brigam por aquilo que precisam, como o alimento por exemplo, e são incapazes de atitudes “humanas”, como a partilha. Seres instintivos e pouco evoluídos mentalmente agem pela própria sobrevivência, pelo próprio sucesso, para conseguir pelo menos mais 5 minutos de superioridade sobre os outros. Trata-se de um instinto de sobrevivência, egocentrismo de subsistência, uma forma de se manter.

Quando atingiu um posto mais elevado na cadeia evolutiva, entre o polegar opositor e o cérebro maior, o homem adquiriu a generosidade, a clemência, a “humanidade”. O homem que só consegue pensar em si mesmo, no próprio sucesso, no próprio sustento, no próprio prazer, não é digno de ser chamado de “humano”... cães brigam por comida. Homens, teoricamente, não.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um monte de coisas que estavam aqui

Autosuficiência

Ser a arma, a bala e a roleta russa. O ato e o fato em si.
Ser vítima e a causa mortis. O assassino e a misericórdia.
Ser quem é, e mais alguém que lhe sustente.
Ser por si o que não podem ou não querem ser.
Ter mais força que apenas um.


Bel Prazer

Basta seu olhar e minhas mãos transpiram loucamente.
Voam, desesperadas, as borboletas em meu estômago.
Sua mão levemente repousa sobre meus ombros,
e como ordens incontestáveis me poe de joelhos.

Você me abraça, sinto o toque de sua pele ao redor do meu corpo.
Sinto o peso de seu corpo sobre meus músculos.
E meu suor fatigado me faz sentir que só sirvo para servir aos seus propósitos,
até egoístas, que exigem cada vez mais...

Assim as horas deslizam entre as fibras da carne como espada afiada.
Sem ferir ou chorar, o golpe consola a alma inquieta e desejosa.
Insolentes, as línguas invadem as bocas das quais não pertencem,
e dançam, loucas, despertando o demente, maldito e criativo sentimento,
que gera vontade e impulso em ser um só com você.

E quando você se afasta, como quem não se importa ou não quer mais,
é quando mais me desespero e me aguço.
É quando uso todo meu talento pra te cativar, antes que desista de mim.
É quando mais brilho e me divirto, ou mais sofro e morro.
Tudo isso, pois você já sabe que tem o dom de impor a ordem em mim.

Me torno o pedaço da vida que você mastiga, suga e degusta.
São pernas, mãos, braços e lábios que se partem e abrem,
com olhos apertados e gritos abafados.

Sei que sou um preço alto, mas vai por mim: bem pago!
Penso que é por isso que me deleito em seus cabelos, surpreendendo a mim mesmo.
E vocÊ, que sempre manda, ainda há de se ver obedecendo.
É aí que meu jeito coadjuvante roubará a cena, virará o jogo.

Até lá, estou ardendo em febre, sem querer me curar.


Eu sinto muito

Eu sinto muito, e não tenho como ser diferente. Pois quando sinto, não apenas tenho o sentimento. Eu o vivo tão intensamente, que me torno ele, mesmo que meu rosto esconda-o dentro de mim, para ninguém perceber. Mas atualmente não consigo mais separar o bom senso do meu lado emocional. Tudo o que tenho que sentir, simplesmente descarrego em minhas expressões, e sem querer “dane-se” quem estiver por perto.

Se me der tristeza, vou chorar com a expressão de quem sente uma dor excruciante. Não terei medo de que me olhem, ou me achem fraco demais, por chorar tanto assim. Vou simplesmente lavar a alma, cuspir cada mililitro do fel que estiver dentro do meu peito, e ninguém mais vai ser capaz de me parar. Até limpar a alma.

Se me der felicidade, vou chorar com a expressão de quem viu um anjo. Não me importo mais de parecer um bobo, feliz, que sorri o tempo todo e para todo mundo. Não ligo se me acharem estranho por estar tão otimista em tempos de guerra, ou tão divino em tempos de destruição. Vou sorrir e rir tanto, que meu estômago vai doer, e meus pulmões falharão... então eu paro, inspiro profundamente, me recupero, e começo tudo outra vez. Até preencher a alma.

E se me der prazer, vou me deleitar como quem não teme o inferno, que é para onde vão os luxuriosos. Me derramarei no hedonismo de minha essência, e deixarei que meu corpo dite as regras do que me faz bem. Se tiver que gritar, gritarei, e minhas mãos procurarão algo por perto para apertar. E de punho cerrado, vou esmurrar a parede ao meu lado, como forma de descarregar todo o prazer que não couber mais no meu sistema nervoso. Vou me entregar completamente. Até gozar a alma.

E quando eu amar, não vou me calar. Não posso passar o resto da minha vida temendo o sentimento mais puro e divino que pode existir. Amar não é pecado, ou errado, ou arriscado, não. Mesmo que não receba isso em troca, vou amar até minha vida perder o sentido se não estiver ao lado de quem amo. Vou entregar minha felicidade em uma bandeja, feliz da vida, em ver que outra pessoa estará com ela em mãos. Por que, pra mim, ser feliz não é estar bem, com tudo bem... é amar alguém! Até a alma.


Abraço Apertado

Um abraço a todos aqueles que forem disso. A todos aqueles que entendem a explosão sincera que parte do peito, dialoga com os músculos e transcende a gente, nos fazendo abrir os braços e o peito para receber alguém. Quero desejar o abraço, por que ele conforta, protege, e transmite pelo sistema nervoso, expressado na flor da pele, toda a energia que temos para o outro. Abraçar é uma forma de recarregar as baterias depois de um dia fatigante de trabalho. O abraço é uma forma de mostrar que o mundo do lado de fora não vai entrar, e o ninho onde se está é seguro.

Eu não vivo sem abraço. Quando fico sozinho, não é o medo que me atormenta, é a solidão. Por isso eu toco em todos aqueles que amo e quero bem. Se caminho ao lado, coloco minha mão no ombro, não mão, no braço... quero segurar as pessoas que gosto, para que minhas mãos se lembrem sempre da pele e do calor.

Tocar é tão essencial, que os bebês que não são tocados pelas mães são fracos. As crianças que não são afagadas, ficam violentas. Os adolescentes que não recebem abraços, ficam medrosos. E os adultos que não abraçam ficam frios, distantes e velhos...

Um abraço apertado é uma forma de expressar o quanto queremos bem. E receber um desses, é um dos poucos momentos em que podemos nos sentir mais frágeis e nos lembrar da nossa condição como humanos. Como pode alguém não gostar do abraço, se no fim, desejamos estar nos braços amorosos do Pai?

Quem tem medo de abraço, tem medo de se conhecer, medo de gostar e perder, medo de perceber que se pode ser fraco por cinco minutos e conquistar o mundo logo depois. Quem não gosta de abraço perde tempo, perde vida, perde força, fica sozinho.

Geralmente, gente assim, quer ficar triste pro resto da vida e reclamando da própria falta de sorte. Quer platéia e espera ansiosamente que alguém venha abraçar. Mas quando isso acontecer, vai negar, por que acha bonito ser triste.


Educação Sentimental

Sei quem eu sou e sei como posso ser. Sempre me vangloriei de me comportar da maneira correta em todos os momentos. Mas desde que vi você, virei do avesso.

Tenho tudo ensaiado para te conquistar. Sei quais palavras devo dizer, o que fazer, quando fazer e como te fazer compreender o que penso e sinto. Mas quando te vejo, falho, travo, e faço cada coisa estúpida que depois me pergunto: “como pude ser tão idiota?”. Me sinto idiota perto de você... bobo... sem corte... completamente fútil e vazio.

Não sei o que fazer pra te agradar, te divertir, te preencher. Exagero muito, eu sei, tentando te agradar, mas poxa... basta demonstrar que estou sendo eficiente ou não, e juro que paro com isso. O que me desgasta é não saber o que você sente, se está bom de verdade, ou se está apenas me aproveitando.

Quem sabe, se me der a resposta, não vai conseguir extrair de mim o que tenho de melhor? E eu, finalmente, poderei voltar a ser eu... “o tal”.