quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando o fatídico dia chegar



Um homem tinha em casa um enorme cão que protegia a ele, e à casa, com a própria vida se necessário fosse. Do mais, era dócil com seu dono, feroz com intrusos e desconhecidos, e sempre presente. O homem não tinha amigos, pois eles tinham medo de visitá-lo, por causa do enorme cão... Foi quando ele tomou uma decisão: prendeu seu fiel escudeiro no quintal.

De fato, o homem passou a receber muitas visitas. Amigos, parentes e outros conhecidos passaram a freqüentar sua casa. Ele sorria e os servia com o que tinha de melhor... na verdade, abriu sua casa para todos, literalmente. O cão, latia enlouquecidamente, pois via todos aqueles estranhos entrando, pisando, rindo na casa de seu dono. Tentava bravamente se desvencilhar da corrente, mas a coleira era mais potente, e no fim, sobrava-lhe o desespero de tentar e não conseguir fazer nada. Frustração.

Os amigos e familiares, porém, logo cessaram as visitas. E quando o homem perguntou seus motivos, foram unânimes. Ele até que era um cara legal, e sua casa era realmente acolhedora. Sua hospitalidade não deixava nada a desejar, além de ser um anfitrião de gosto e tino apuradíssimo. Entretanto, o cão nos fundos da casa era muito barulhento, atrapalhava a conversa, a música, os risos, e aquilo estava ficando chato demais. Novamente, o homem tomou outra decisão: trancou o cachorro no porão.

A casa nunca esteve tão cheia e viva. Quantas pessoas caberiam em sua sala de estar? Não importava mais. Estava cheia e todo mundo se ajeitava para acomodar mais um. Os vinhos foram consumidos, os queijos, o jazz e o blues. Os sorrisos, os cigarros, as manchas no sofá... Tudo denunciava que aquela casa era mesmo popular. E o homem, parecia feliz com toda aquela gente, mas sentia falta de algo mais... o cão, que jazia no porão.

Então aconteceu.

Num dia movimentado, o dono cansado, não fechou bem o alçapão. Recebia visitas, que aproveitavam de seu champagne, e ele inocente, não percebeu. Mas pela fina fresta que havia na porta, o cão notou. Ficar tanto tempo preso no escuro lhe enfureceu, e ver seu dono sendo tapeado assim tão facilmente, o deixou doente em ódio. O cão escapou.

Houve pânico. Houve gritos. Houve sangue. Descontrolado, o cão destruiu a casa e os convidados...

Ontem eu vi coisas. Eu ouvi coisas. Eu percebi situações e pessoas. Ontem, para ser agradável eu tomei uma decisão. Fico agora pensando no que estaria pensando o meu cão, me ouvindo e vigiando, lá do porão?

Um comentário:

Cáh disse...

Vc escreve bem demais desta forma. Gosto muito.

Não é saudável prendem o cão, muito menos deixá-lo solto. Basta encontrar uma maneira de educá-lo para viver sem coleira, sem atacar. Somente rosnando quando necessário pra mostrar quem é que manda ali.


Beijoooooo!

ótimo texto!