terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu olhei pra trás...


Eu não consegui acreditar nos meus ouvidos quando você disse “não”. Eu fiquei por um tempo olhando a xícara de café sobre a mesinha do shopping, pensando: “eu não entendi... ?”. Eu perguntei duas vezes, depois, o que significava seu “não”. Por que meu cérebro, sempre tão rápido, se recusava a digerir o que estava recebendo de informação. Seu “não” não podia ser compreendido... e você apenas confirmou. Era “não”.

Eu levantei, sem saber direito o que estava fazendo e caminhei. Levei a mão ao rosto numa tentativa de segurar as lágrimas. Fui andando na frente, olhando para cada vitrine, buscando alguma coisa para focar a atenção. Mas meus ouvidos ficavam atentos. Eu queria ouvir você chamando meu nome, me puxando pelo braço, e me dando um beijo de filme no meio do shopping. Eu queria ouvir você dizer que se equivocou, que na verdade era “sim”, e que eu teria seus braços para me envolver sempre que precisasse de carinho.

Quando você veio caminhando ao meu lado, num silêncio mortal, eu fechei os olhos e o peito. Queria engolir meu coração, tomando o cuidado de mastigá-lo bem, que era pra ele parar de me infernizar. Então você me perguntou se eu gostaria que você me esperasse, no ponto de ônibus. Poxa! Eu queria dizer “sim”... e mais: “Fique comigo não só no ponto de ônibus. Fique comigo por mais tempo. Deixa eu mostrar que isso pode dar certo”. Mas só consegui te lançar um olhar lânguido, e você disse “entendi”. Mentira... não entendeu foi nada!

Aí você me ofereceu um abraço, e naquele momento eu morri por dentro. Como eu te abraçaria afinal? Se eu fizesse isso, meu corpo todo te amarraria, e talvez eu não te largasse jamais, até você me dizer: “calma, vai ficar tudo bem! Eu não vou te deixar mais...”. Eu pensei em te abraçar uma última vez, mas fiquei com medo.

E você foi caminhando, com altivez, talvez feliz por ter se livrado de mim. Talvez o mundo tenha ficado mais leve pra você, e as pessoas mais coloridas. E eu fiquei olhando você atravessar uma praça e pensei: “não! Por favor, não”. Eu queria que você me olhasse de longe, e quem sabe voltasse, correndo, me dizendo que “tudo vai ficar bem! Calma, não vou deixar você”. Então me lembrei de como você me chamava de “dramático”. Eu quis rir... Mas você foi embora, sem olhar pra trás. Então chorei.

Eu comecei a chorar no ponto de ônibus, enquanto isso, as pessoas viam minhas lágrimas. Um grupo de garotos riu da minha cara, mas nem liguei. Uma moça pareceu compadecida pela minha situação, mas ninguém me deu um abraço de consolo. Foram os mais longos 30 minutos da minha vida, até que o ônibus chegou. Bem, confesso: eu olhei para trás, na janela, enquanto o ônibus partia. Eu queria, quem sabe, ver você voltando, com uma flor na mão, me dizendo que foi tudo um engano. Eu quis me dar um tapa, para deixar de ser tão sonso e sonhador. Chorei a miséria da estrada inteira, até chegar aqui...

Dentro de casa, sozinha e fria como uma tundra, me entreguei a mais prantos. Tudo o que eu tinha agüentado até agora, eu desmoronei. Pois o que tenho em minhas mãos? Me resta a distância da família e dos amigos, e mesmo aqueles amigos que você diz que são mais próximos, agora estão distantes. Também tenho uma empresa num buraco enorme, em que vou ter que lutar para recuperar (com que ânimo?)... além disso, me restou uma vida miserável, em que tudo dá errado... e agora, não tinha mais você. E então... solidão!

Resolvi te ligar e perguntar: “O que eu vou fazer agora, se num momento como este eu ligaria pra você e pediria ajuda? Como vou ligar agora pra você, e dizer que gosto tanto de você, e que mesmo assim você não me quer?”...

Agora, assim como foi no ônibus, eu fico olhando pra trás. Fico vendo o passado. Olhando aquela gueixa de porcelana sobre minha cômoda, e o incensário em forma de dragão. Coisas que você adivinhou que eu gostava tanto. Fico olhando pra trás... e choro... Será que você vai surgir outra vez e me resgatar? Acho que não...

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O Sinopse de Sinapses recebeu o "Prêmio Dardos" de alguém muito especial, a doce Camila, da Sombra do Mar.

Recebe este selo os blogs e seus blogueiros que transmitem valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Recomenda-se que, quem recebe o "Prêmio Dardos" e o aceita, siga algumas regras:

1. Exibir a Distinta Imagem,
2. Apontar o Blog pelo qual recebeu o prêmio;
3. Escolher uma quantidade de pessoas de sua preferência e um blog de cada pessoa escolhida para oferecer o "Prêmio Dardos".

Ofereço o prêmio, então, aos blogs:
Mãe[teiga] Derretida
Devaneios de uma Viciada em Paixão

Um comentário:

Delta Menos disse...

Olha só! Voce me deu um prêmio e eu vi 200 anos depois.

Muito obrigada meu amor!

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