terça-feira, 10 de novembro de 2009

“Me desculpe o auê. Eu não queria magoar você...” (Rita Lee)

Eu ia escrever uma frase, que sei que é uma frase clichê, e sinceramente, não consegui pensar em nada mais adequado. Na verdade é uma frase adequada, mas por ser clichê, eu não queria coloca-la aqui... Sabe como é, né? Maldita obrigação (geralmente auto-imposta) de ser criativo, inovador etc. E até isso é um clichê entre nós publicitários.

Engraçado, entrei no assunto sem querer, pois eu ia justamente falar dos “papéis” que assumimos durante nossas vidas. Os diversos personagens em que nos transformamos ao longo da história, e como isso se reflete naquilo que chamamos de destino. Repare que aqui eu atribuo ao termo “destino” o significado de “resultado da equação chamada vida”. Ou melhor, como um efeito de nossos próprios atos, e nada daquela coisa de predestinação, “estava tudo escrito” e bla bla blá whiskas sachê.

Porém, como papéis, eu não me refiro necessariamente à mentira, aos personagens que inventamos, à falsidade em si (e isso me lembra que ainda não falei a frase, né?). Refiro-me sobretudo aos papéis que ocupamos, sem querer, ao longo da vida. O filho, o marido, a amiga, a confidente, a vítima, o algoz etc.

O que conto agora tirei da minha própria vivência, por exemplo...

Acostumei-me a ser compreensivo, pacífico, amigo e confidente. A “maldita” educação que mamãe me deu, me impede de soltar cobras e lagartos, falar palavrões nos momentos de raiva (embora eu fale um monte deles em outros momentos), ou de dizer um simples “não”. Não sei fazer isso! Estou sempre disponível, sempre pronto, sempre sorrindo para ouvir os problemas alheios, me preocupo, me entristeço e sofro junto de meu interlocutor para resolve-los. Eis que surge a questão: e quem ouve os meus? Serei eternamente dependente de um terapeuta?

Para a maioria das pessoas acabo transmitindo uma imagem de sabedoria, paciência, reflexivo. No momento de maior desespero (ou de banalidade), essas pessoas sabem que podem contar com meu colo, meu ombro, meu sorriso. E assim eu vou arquivando problemas alheios em meus bancos de dados, e sofro com eles. E assim construo uma figura forte e inabalável, sempre de pé, sempre a postos!

Dessa forma, acabo “me proibindo” de demonstrar fraqueza para algumas pessoas para as quais sirvo de apoio. Ou não demonstro tristeza para aquelas pessoas que contam com a minha animação. E não demonstro raiva ou inquietação para aquelas pessoas que precisam de minha calma... esse é meu papel dentro da vida delas, e eu “não posso” sair dele.

Eis que, as vezes, algumas pessoas me confundem. Se mostram amigas, mas que não podem ouvir meus reclames, me oferecer o mínimo de apoio. Se mostram prestativas, mas não tem a mesma paciência comigo, que dispenso à elas. São pessoas que fingem um papel, que encobre o papel real, e me fazem agir de forma irresponsável com o papel no qual me inseri. E assim as relações se quebram.

Como diria minha irmã: “É por razões óbvias que a gente escreve...”. E me desculpem, mas até esqueci qual era a frase que eu (não) queria citar... melhor assim.

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