terça-feira, 9 de junho de 2009

Um pouco de tudo VIII

Leia também: Parte I | Parte II | Parte III | Parte IV | Parte V | Parte VI | Parte VIIO ódio sustentava meus dias até então, me dando motivos para lutar contra todo este câncer que a vadia loura havia injetado em minha vida. Detesta-la – com a mesma intensidade que a tinha amado – era minha filosofia de vida, obrigação, necessidade. Era para isso que eu vivia: odiá-la ou perdoá-la. Mas tanto rancor no peito já começava a cobrar sua indenização... saturado, eu saía, bebia e fodia com todo tipo de vagabunda que cruzasse minha frente. Até aquele sábado chegar...

Costumeiramente, estava sentado no fundo do bar. Whisky na mão, cigarro na outra, jaqueta sobre a cadeira. O breu cobria minha face... era por isso que eu voltava todos os finais de semana pra lá. E naquele dia eu deixei de me arrepender de ter construído tal rotina. Diante de meus olhos, com a candura de um anjo, ela subiu ao palco e cantou, para mim, um blues.

Negra como a noite – no melhor estilo black power, apresentou-se em seu vestido alaranjado de estrelas, que mesmo brilhantes não conseguiam ofuscar, ainda assim, a luz de seu olhar. Um par tão claro como os olhos de uma leoa, ela me fitou e desnudou minha alma, lá no fundo dos balcões... Pela primeira vez na vida senti minhas costas arrepiarem de tensão, e não de tesão. Sorriso branco entre lábios grossos e debochados, ela fazia aquilo só para me torturar.

Seus movimentos ao microfone eram o espetáculo à parte. Mãos delicadas, com garras de tigresa. Braços longos e firmes de uma atiradora de lanças. Corpo esguio e liso como o de uma serpente... ela rebolava para me provocar. Ela jogava seus braços e virava o rosto, num misto de atitude e potencia, enquanto sua voz soava como uma bomba, mas delicada como uma borboleta. Quando deu de mostrar seu pescoço, eu vi, próximo a nuca, uma tatuagem de escorpião... e seu veneno me infectou. Ou me curou. Difícil saber.

Receio ter ficado cerca de 40 minutos bestificado, enquanto meu whisky esquentava sobre a mesa. Foi quando a música parou e fui compelido pelo instinto a participar do aplauso. Ela piscou de uma forma que me pareceu câmera lenta, e quando terminou de aceitar os cumprimentos que lhe foram apresentados, dirigiu-se a mim.

Cada passo daquela pantera negra chacoalhava o mundo ao meu redor. Até que ela parou diante de meus olhos e seu cheiro me embriagou de uma forma que o whisky não conseguia.

Agora estou aqui, deitando em minha cama de lençóis de seda azul marinho. Meio-dia. Chuva do lado de fora. Ela esta em meus braços, adormecida, me fazendo crer que o mundo ainda gira, que a vida continua. Ela me prova que a noite tórrida não foi mentira. E eu só fico pensando... Para onde vou agora que o ódio se tornou apenas um “bom dia”? Normal, como quem atravessa a rua e se cruza sem querer...

Comentando Comentários
Obrigado pelos comentários! E vamos comentá-los, então...

Pimentinha: Ter um clã, hoje em dia, é necessário...
Tiago Lott: E você é um ótimo designer... inveja! Estamos quites! rssss
Pucci: Luv u in return. Também por fazer parte de meu clã! ;)
Rafael Carvalho: Que bom! Espero vê-lo por aqui mais vezes!
Karla Moreno: Pois eh... o que seria de nós sem nossos blogs para desabafar... =/

3 comentários:

Pimentinha disse...

"me fazendo crer que o mundo ainda gira..."

...um simples toque pra perceber que a vida continua (é aquela coisa.. "a gente para enquanto tudo segue").
...Muito bom o texto. (tava precisando pensar sobre isso =p)

bjuh

Da Silva disse...

E agora, parceiro? Você tem um talento. O que vai fazer com ele? Essa é a pergunta de um milhão de dólares.

forte abraço!

Karla Moreno disse...

Salve Negra Li.

Eu já não vejo outra forma de desabafar. É complicado amigo blogueiro. =/

Beijos