segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um Pouco de Tudo IV

Leia também: Parte I | Parte II | Parte III

A recuperação é lenta e tediosa. As mesmas paredes, as mesmas porcarias na TV, os mesmos médicos putos. O que me felicita vez ou outra é o “auxilio” que recebo das enfermeiras, geralmente no turno da madrugada. Da alimentação ao banho, elas são prestativas e tão atenciosas. E fazem questão de realizar um bom trabalho comigo... talvez sejam meus olhos verdes, ou minha expressão de dureza... no rosto. A sobriedade as vezes tem suas vantagens.

Quando terminam o “serviço”, mantenho-me em silêncio. Elas param e me olham, com um sorriso de satisfação no rosto. E eu apenas as fito com indiferença. Acho que elas esperam que eu diga alguma coisa como “você foi maravilhosa”, ou pelo menos “obrigado”. Mas eu acho muito mais divertido vê-las baixando o olhar, constrangidas, perdendo o sorriso, e saindo do quarto apressadas. Eu me rio por dentro.

Entretanto, nestes últimos dias, tudo tem sido estranho.

Certa manhã, um jovem de jaleco branco abriu a porta repentinamente e me fitou nos olhos. Tinha o rosto novo, ainda sem barba, mas rígido e simétrico como o de um robô. Seu nariz era adunco e suas sobrancelhas grossas e negras emprestavam um ar de perigo ao seu olhar. Imediatamente ao vê-lo fechei a cara, mas logo que pus os olhos naqueles olhos azuis, tão familiarmente feminino, me perdi. Me lembrei de minha juventude, de minhas sobrancelhas grossas... e ele fechou a porta e saiu, antes que eu pudesse processar tal informação. Acendi um cigarro clandestino.

Dias depois acordei na madrugada com um perfume roçando em meu nariz. A chuva castigava essa maldita cidade – bem feito! – do lado de fora, com trovoadas. Inspirei mais uma vez, para ter certeza, e pelas reações fisiológicas que aquele perfume me despertou, tive a certeza: aqueles belos cabelos louros estiveram naquele quarto, durante a noite.

Hoje sonhei com aquele rapaz de sobrancelhas grossas. Pela primeira vez eu despertei com medo, desde os meus 6 anos de idade, no fatídico dia em que meu pai tentou me matar por ser um bastardo filho de uma puta, eu não acordava assim.

Comentando Comentários
Obrigado pelos comentários! E vamos comentá-los, então...

Pucci: Oh, meu anjo. Fico feliz em ser alguém tão importante assim! ^^ Pela liberdade e pelo orgulho, avante sempre! rssss
Pimentinha: Obrigado! Cada vez mais lisonjeado... ^^
Karla Moreno: Finalmente, né! Já sentia falta dos seus comentários também! ^^
Da Silva: Muito obrigado pela consideração! Sobre palavras tardias... de fato, concordo!

OBS.: Acho que já mencionei isso por aqui, mas de qualquer forma, vale citar mais uma vez. “Um Pouco de Tudo” não tem a pretensão de ser um conto ou coisa parecida. Na verdade se trata de uma releitura de fatos que têm acontecido em minha vida. Cada personagem, cada manifestação de emoção, cada situação, tem paralelo com o que acontece na realidade, de uma maneira metafórica e literária.

Um comentário:

Cáh disse...

PS: não entendi mto bem, mas como eu li uma parte que ainda tem outras, fui verificar, porém, este humilde pc não permite descer mais a barra de rolagem sem antes dar aquela 'travadinha' gotosinha que eu amo e fico de joelhos pra agradecer sempre quando não tenho mais nada pra fazer! Assim que São Coiso dos Speedys permitir, voltarei para ler e 'entender'. Por hora, adianto que estou constipada, garganta estufando as amídalas e febre de 74 graus!



Beijoooo