segunda-feira, 16 de março de 2009

Sexo Frágil

O texto abaixo foi retirado do blog "O Sexo que Sangra", de autoria de Valéria Brandini. Um blog quente e visceralmente feminino. Eis que, dessa forma, ela despiu os homens, e nos revelou cruamente... vejam...

"Parece que tudo é uma questão de códigos... Que não compreendemos. Nem toda semiótica poderia decifrar estes sinais cujos significados não são totalmente cognoscíveis nem mesmo para os emissores, homens e mulheres, perdidos na tal crise de categorias de gêneros que engorda contas de psicanalistas e enche salas de espera em clínicas de depilação masculina.

Quando Trent Reznor lançou o álbum Fragile, o músico conseguiu interpretar o sentimento de milhares de homens mundo afora perdidos entre as inquietações do primeiro sexo, aquele, cuja etimologia jamais combinaria com o termo fragilidade. Mas não são apenas as lágrimas assumidas e a divisão das tarefas, a anorexia masculina e o disfarçado desejo em ser homem objeto... Existe um grande buraco que não consegue mais ser preenchido com cervejadas entre amigos e paixão de futebol, pelo sexo como prática identitária e o falo como arma - pois este, hoje se volta contra seu dono - uma foda se converte numa busca afetiva, nem tanto do Outro, mas por aquele Eu que não se encontra mais nos arcaicos códigos de virilidade movidos a testosterona e vulgares demonstrações de poder físico.

Desde criança sempre achei mais divertida a companhia dos meninos, talvez por que eu fosse grandalhona, sempre mais alta que a maioria das meninas, condenada, por isso, a sentar no fundo da classe, o tal fundão dos bagunceiros e excluídos. Nunca vi os homens como meros canalhas, via sim, essa fragilidade, contida, amordaçada, travestida em gestos rudes e uma distância afetiva quase inocente. Hoje vejo que ela se converte em egocentrismo e isolamento, entre o bronzeamento artificial e o futebol, o medo do envolvimento - na verdade, um medo de não saber o que ser na relação - e o desenvolvimento dos dotes culinários.

Vejo homens perdidos entre papéis que não são mais seus, entre orgasmos sem prazer e músculos sem força. Vejo sinais de uma indecifrável poesia cuja língua não compreendo, mas cuja música me envolve num abraço sedutor, os sons de um coração agora liberto, batendo confusamente sem rumo, perdido na melancolia da liberdade de sentir sem amarras, a mesma de um coração feminino.

Talvez as novas gerações tenham a resposta, talvez as meninas que se beijam no ginásio estejam mais aptas a compreender e confortar a fragilidade masculina. Ou talvez, depois de ter experimentado o papel de objeto (outrora feminino), o homem possa enxergar o segundo sexo, agora, em primeiro plano."

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